A humanidade enfrenta uma tripla crise planetária: alterações climáticas, perda de biodiversidade e degradação da terra

Nesse contexto, nós, como Povos Indígenas e Comunidades Locais (PICLs), protegemos as florestas tropicais do mundo — ecossistemas vitais que armazenam metade do carbono florestal da Terra e sustentam a própria vida. No entanto, apesar de cuidarmos de grande parte das terras do planeta, muitos dos nossos territórios estão sob ameaça da expansão industrial, mesmo em nome da “energia limpa”. Esta plataforma partilha conhecimentos de um estudo global da Aliança Global de Comunidades Territoriais (AGCT), abrangendo a Bacia Amazónica, o Brasil, a Mesoamérica, a Bacia do Congo e a Indonésia.

Juntos, apelamos a um novo caminho: Do reconhecimento ao investimento direto. Da exclusão à participação. Das soluções impostas à ação liderada pela comunidade.

Do reconhecimento ao investimento: o papel dos povos indígenas e dos sistemas alimentares locais na agenda climática

Este artigo destila evidências globais mostrando como nossos sistemas alimentares tradicionais são fundamentais para enfrentar a tripla crise planetária — e apresenta recomendações de políticas concretas para a COP30 e além.

Reconhecer os PICs como autoridades ambientais legítimas. Formalizar e fortalecer seus sistemas de governança tradicionais dentro das estruturas climáticas internacionais — incluindo acordos sobre clima, biodiversidade e restauração. Harmonizar os regulamentos internos e externos e investir na capacidade da comunidade para uma gestão territorial sustentável, autônoma e culturalmente fundamentada.

Aplicar uma lente de gênero e intergeracional ao financiamento direto. Ir além do financiamento tradicional para a conservação, em direção a mecanismos que aloquem uma parcela específica de fundos para fortalecer a agência econômica e de liderança de mulheres e jovens, garantindo que a ação climática seja inclusiva e equitativa em sua essência.

Institucionalizar a governança tradicional e os sistemas alimentares como pilares fundamentais da política pública e do planejamento territorial. Reconhecer e proteger as formas ancestrais de uso e organização da terra, garantindo que seus princípios orientem a gestão ambiental e o design de políticas, reforcem os direitos à terra e concedam reconhecimento formal aos Povos Indígenas e às autoridades locais.

Promover economias solidárias e salvaguardar os sistemas agroalimentares tradicionais. Apoiar o fortalecimento das cadeias de valor locais e regionais, dos mercados interculturais e das ligações urbano-rurais para garantir preços justos, trocas equitativas e acesso a alimentos saudáveis e culturalmente apropriados. Estabelecer salvaguardas para evitar a apropriação indébita ou a comercialização descontextualizada de produtos tradicionais.

Garantir a segurança e os direitos dos líderes ambientais dos PICs. Implementar protocolos legais, sistemas de alerta precoce e apoio institucional para prevenir ameaças, violência ou criminalização. Exortar os Estados a ratificar e implementar estruturas como o Acordo de Escazú, garantindo o acesso à informação, a participação pública e a proteção para aqueles que defendem o meio ambiente.

Garantir a agência dos PICs nos espaços internacionais de tomada de decisão. Elevar sua representação e capacidade de negociação dentro das Convenções do Rio, garantindo a participação plena e efetiva em todos os níveis nas decisões que afetam diretamente seus territórios e meios de subsistência.

Recomendações de políticas para a COP30

É assim que recomendamos reconhecer o papel vital dos Povos Indígenas e Comunidades Locais (PICs) no avanço dos sistemas alimentares tradicionais e das práticas florestais que oferecem soluções poderosas e integradas para a tripla crise planetária.

Baseado em princípios agroecológicos (policultura, rotação de culturas, consórcio de culturas, ciclos de nutrientes), sem uso de agroquímicos.

Sistemas integrados que combinam animais, culturas e florestas. Eles mantêm e usam uma vasta diversidade de sementes nativas, variedades locais e espécies selvagens.

As mulheres são as guardiãs das sementes, do conhecimento ancestral e da gestão diária dos sistemas alimentares tradicionais, garantindo a segurança alimentar.

Os jovens desempenham um papel fundamental na transmissão e adaptação do conhecimento tradicional, garantindo a continuidade das práticas através das gerações.

O trabalho é organizado em torno de princípios de reciprocidade e solidariedade — como as práticas de Minga, Mutirão, Mano Cambiada, Bewawi e Beburuh.

Eles são guiados pelo conhecimento ancestral dos ciclos naturais, clima, solos e comportamento das espécies, bem como por processos culturais simbólicos, como cerimônias de semeadura ou colheita, rituais de limpeza de sementes, proteção espiritual e compreensão dos ciclos lunares.

Existem relações horizontais entre humanos, plantas, animais, espíritos e o meio ambiente, reconhecendo a agência, os direitos e o significado das forças não humanas na vida e na governança territorial.

Mandioca no Brasil; Yuca, Tabaco e Coca na Bacia Amazônica; Milho na Mesoamérica; Cultivo de arroz na Indonésia.

Priorizar o autoconsumo e a autonomia para produzir alimentos saudáveis, culturalmente apropriados e livres de produtos químicos.

Integração de práticas agroflorestais que promovem a regeneração florestal, o uso de produtos florestais não madeireiros e a conectividade ecológica.

Incentivar o intercâmbio local, o valor agregado aos produtos florestais e os circuitos de comercialização ética. Os mercados interculturais são fortalecidos e criados.

Características gerais e descrição dos sistemas alimentares tradicionais e práticas florestais

É assim que recomendamos reconhecer o papel vital de nossos Povos Indígenas e Comunidades Locais (PICs) no avanço dos sistemas alimentares tradicionais e das práticas florestais que oferecem soluções poderosas e integradas para a tripla crise planetária.

Brasil

Indonésia

Mesoamérica

Bacia do Congo

Bacia Amazônica

Estudos de caso

Evidências territoriais de cinco regiões tropicais

Histórias e dados do Brasil, Indonésia, Mesoamérica, Bacia do Congo e Bacia Amazônica mostram como a governança liderada pela comunidade sustenta a biodiversidade, fortalece a soberania alimentar e garante a resiliência climática.

Somos soluções vivas para as crises climática, de biodiversidade e alimentar

Nossos sistemas agroalimentares e práticas florestais carregam o conhecimento e a ação necessários para um mundo justo, sustentável e resiliente ao clima. A COP30 e além devem ser um ponto de virada: do reconhecimento ao apoio direto, da consulta à cogovernança e do discurso à ação transformadora.

Conclamamos os Estados, as organizações multilaterais, os fundos climáticos e a sociedade civil a:

Reconhecer e apoiar nossos sistemas agroalimentares e florestais tradicionais como soluções para a tripla crise planetária.

Fornecer financiamento direto e seguro, com foco em mulheres e jovens.

Garantir nossa participação plena e efetiva na tomada de decisões no âmbito das Convenções do Rio.

Proteger nossos defensores ambientais como essenciais para a ação climática e a paz com a natureza.

Da Amazônia à África, da Mesoamérica à Indonésia, nossa voz é um chamado para restaurar o equilíbrio.

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