Declaração pública sobre os resultados da incidência da GATC no TFFF 3.0

O governo brasileiro lançou recentemente a proposta do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) em sua Nota Conceitual 3.0. Nós, da Aliança Global das Comunidades Territoriais (AGCT), endossamos esta nova versão como resultado direto da luta coletiva dos Povos Indígenas e Comunidades Locais (PIs e CLs) por acesso justo e direto aos recursos financeiros para o clima, reconhecendo todas as mudanças que ocorreram desde que o fundo foi anunciado pela primeira vez em 2023.

A garantia de que um mínimo de 20% dos pagamentos por resultados do TFFF serão canalizados diretamente para nós que, estamos na linha de frente da defesa de nossos biomas, representa uma vitória histórica que consolida o papel de liderança de nossos povos na abordagem da crise climática. Além disso, a inclusão de uma lista de exclusão para combustíveis fósseis na Nota 3.0 responde a uma demanda central de nossas organizações, reafirmando a urgência de impedir que o TFFF se torne um novo mecanismo de destruição territorial.

Temos acompanhado de perto o TFFF desde seus primeiros anúncios na COP-28 em Dubai. No entanto, foi somente em outubro de 2024 que fomos oficialmente convidados a discutir a possibilidade de incluir um mínimo de 20% dos recursos para os povos indígenas e comunidades locais como parte da operação do fundo. Desde fevereiro de 2025, optamos por colaborar com o Governo do Brasil, o Banco Mundial e o Secretariado do TFFF na co-concepção da chamada Alocação Direta de Financiamento (IP’s e LC’ DAF), com base em uma intensa jornada coletiva. Realizamos eventos paralelos na ONU, workshops técnicos, reuniões semanais com a equipe principal, reuniões presenciais do Comitê Diretor Global em Brazzaville e Londres e uma conversa com mais de 400 participantes no Congresso Global das Bacias Florestais.

A proposta, desenvolvida por muitas mãos, contempla o papel de liderança dos IPs e LC’s em todas as decisões relativas ao uso de recursos em nível nacional, por meio de comitês diretivos nacionais e agências de implementação livremente escolhidas, permitindo que os recursos cheguem às nossas organizações e fundos territoriais. Nossa decisão de participar da concepção da DAF está alinhada com nosso compromisso de transformar a arquitetura do financiamento climático e da biodiversidade, para que sejamos verdadeiramente reconhecidos como os guardiões de nossos territórios.

Embora nem todas as nossas propostas tenham sido aceitas — como a exigência de assentos para os PI e CL nos Conselhos de Administração do TFFF e do TFIF —, reconhecemos o progresso na criação de um Comitê Consultivo Global e continuaremos a nos mobilizar para garantir que a governança do fundo reflita verdadeiramente os princípios de participação, equidade e autonomia.

Reconhecemos nossas vitórias, mas permanecemos vigilantes. Agora é o momento de colocar o TFFF em ação e, ao mesmo tempo, garantir os recursos necessários para que o fundo funcione com as necessárias estruturas nacionais nos países com florestas tropicais, de forma que se assegurem nossa participação plena e efetiva em comitês diretivos inclusivos, agências de implementação legítimas e mecanismos de monitoramento culturalmente adequados. Reafirmamos nosso compromisso com a integridade socioambiental e reiteramos nossa exigência de que nenhum recurso do TFIF seja alocado para petróleo, gás ou mineração — um limite claro, reafirmado em todas as nossas organizações.

Por fim, convocamos nossos aliados na sociedade civil, na comunicação e na cooperação internacional a apoiar os próximos passos: construir um processo robusto de diálogo e incidência nacional, liderado por nós, Povos Indígenas e Comunidades Locais, para garantir a implementação efetiva de tudo o que foi conquistado até agora.

Sabemos que os países tropicais ainda têm um longo caminho a percorrer para estabelecer uma relação verdadeiramente respeitosa conosco — seja na construção de estruturas de governança inclusivas ou na garantia de nossos direitos humanos e territoriais. Por isso, apelamos aos governos e aos nossos aliados para que se envolvam ativamente neste processo, bem como na melhoria dos sistemas de monitoramento das florestas, de outros ecossistemas e dos nossos territórios.

Da mesma forma, é essencial defender que tanto os mínimos 20% cheguem às nossas organizações como também os 80% sirvam para financiar as políticas públicas que protegem verdadeiramente os nossos territórios e direitos.

A resposta somos nós. A resposta somos todos nós, incluindo você.

Mulheres Indígenas: um movimento global em resistência

O movimento das mulheres indígenas transcendeu fronteiras e se consolidou como uma força global de resistência e transformação. O que antes eram vozes isoladas, hoje se articula em uma rede internacional que une líderes da América Latina, África, Ásia e outros territórios do mundo. Essa convergência permitiu que as mulheres indígenas não apenas fossem ouvidas, mas também definissem o rumo das discussões sobre direitos, territórios e justiça climática. Esse é o nosso movimento de mulheres: uma articulação global que nasce da ancestralidade, se sustenta na coletividade e se projeta para o futuro com propostas concretas para a vida e a justiça climática.

Na IV Marcha das Mulheres Indígenas no Brasil, líderes de diversos países, Brasil, Venezuela, Bolívia, Colômbia, Equador, Panamá, Peru, México, Costa Rica, Filipinas, Honduras, Suriname, Guiana, Zimbábue e Quênia, e de múltiplos territórios, ecossistemas, biomas, línguas, culturas e tradições, se reuniram para compartilhar experiências, visibilizar os desafios comuns e reafirmar que a defesa dos corpos e dos territórios é inseparável. Este espaço ancestral de resistência abriu a possibilidade de dialogar a partir de nossas realidades e conhecimentos, fortalecendo a incidência internacional das mulheres indígenas e colocando nossas propostas no centro dos debates globais.

Dessa articulação surge a Carta das Mulheres Indígenas ao Mundo, um documento histórico que reúne nossas vozes, lutas e demandas. A carta é o resultado de um processo de construção coletiva que exige igualdade, respeito, reconhecimento e a urgência de compreender que não existe justiça climática sem as mulheres indígenas.

Hoje, esta carta é apresentada como um apelo ao mundo: aos Estados, aos organismos internacionais e à sociedade civil global, para que reconheçam e garantam os direitos das mulheres indígenas e o seu papel fundamental na proteção da vida e do planeta. É testemunho de um movimento que cresce, se fortalece e continuará a marcar o caminho para um futuro justo e sustentável para todas e todos.

Declaração de Brazzaville

Nosso Compromisso com os Povos, Nossos Territórios, o Planeta e a Parceria: Um Caminho Unificado para a COP30 e Além

De 26 a 30 de maio de 2025, nós, Povos Indígenas e Comunidades Locais das principais bacias florestais tropicais do mundo, reunimo-nos em Brazzaville, República do Congo, para o Primeiro Congresso Global dos Povos Indígenas e Comunidades Locais das Bacias Florestais.

Enraizados na sabedoria de nossos ancestrais e na força de nossos territórios, reunimo-nos para construir uma voz comum e uma visão compartilhada para o futuro. O resultado é esta declaração – um documento vivo de nossos compromissos, nossas demandas e nossas soluções diante das crises climáticas e de biodiversidade globais.

A Declaração de Brazzaville é mais do que palavras; é um chamado ao reconhecimento, respeito e parceria. Enquanto o mundo se prepara para a COP30 e além, lembramos aos líderes globais que a liderança dos Povos Indígenas e Comunidades Locais é essencial para restaurar o equilíbrio do planeta.

Leia e compartilhe nossa declaração. O futuro começa em nossos territórios.

Estamos nos preparando para um momento histórico: Primeiro Congresso Mundial dos Povos Indígenas e Comunidades Locais das Bacias Florestais do Mundo

Do coração da Amazônia às florestas vivas da Bacia do Congo, das florestas sagradas da Mesoamérica às ilhas e selvas do Sudeste Asiático, estamos nos preparando para nos unir como uma só voz, um só território, uma só luta.

De 26 a 30 de maio de 2025, nos reuniremos em Brazzaville para realizar o Primeiro Congresso Mundial dos Povos Indígenas e Comunidades Locais das Bacias Florestais do Mundo — um espaço histórico de unidade, estratégia e liderança territorial.

Este Congresso é mais do que um evento: é uma oportunidade vital para fortalecer nossa aliança global pela proteção das florestas que sustentam o equilíbrio do planeta. É o momento de alinhar nossas agendas, trocar soluções enraizadas em nossos territórios e levar nossas prioridades diretamente para a COP30 em Belém do Pará, Brasil.

Sabemos que não pode haver solução climática sem nós — os povos indígenas e as comunidades locais.
Somos nós que protegemos as florestas que armazenam carbono, salvaguardam a biodiversidade e preservam a vida e a cultura. Mas também somos nós que enfrentamos ameaças cada vez maiores: grilagem de terras, criminalização, falsas soluções climáticas e a ausência de financiamento direto e participação plena e efetiva.

Por que este Congresso é importante?

Sabemos que, quando nossas comunidades detêm os direitos sobre seus territórios, as florestas prosperam.Somos os guardiões mais eficazes das últimas florestas do planeta — e ainda assim seguimos sendo excluídos das decisões que moldam o nosso futuro.

Este Congresso envia uma mensagem clara aos líderes mundiais: não estamos pedindo espaço — estamos reivindicando. Não aceitamos mais inclusão simbólica.Estamos nos organizando por poder real, financiamento direto, reconhecimento legal e segurança territorial — porque nossas florestas, nossas culturas e nossos direitos não são negociáveis.

“É hora de humanizar os processos climáticos. Nossos territórios não são créditos de carbono. São vida, equilíbrio e resistência.” — Joseph Itongwa, um dos nossos co-chairs

Ao lado de aliados fundamentais como a Iniciativa pelos Direitos e Recursos (RRI) e com a participação das nossas organizações de base da África, Ásia, Mesoamérica e América do Sul, estamos construindo um movimento global poderoso, enraizado no território, no diálogo intergeracional e na equidade de gênero.

Desde a Aliança Global das Comunidades Territoriais (AGCT), estamos nos preparando com força e convicção — porque este encontro marcará um ponto de inflexão.

A resposta somos nós. A resposta somos todos. Inclusive você!

Plano Estratégico 2025 e 2026

Declaração Pública sobre a participação da GATC no TFFF

O Fundo Bosques Tropicais para Sempre (TFFF) é um novo fundo internacional proposto para gerar fluxos sustentáveis de receita destinados à conservação florestal em países com florestas tropicais. A proposta do Governo do Brasil consiste em capitalizar uma quantidade significativa de recursos por meio de empréstimos de países doadores e mercados de capitais privados, utilizando os juros gerados para recompensar os países pela preservação de suas florestas. Esses pagamentos seriam baseados em desempenho e não envolveriam a criação ou comercialização de créditos de carbono. A Secretaria do TFFF propõe que pelo menos 20% desses recursos sejam destinados aos Povos Indígenas e Comunidades Locais (PI&CLs).

Como Aliança Global de Comunidades Territoriais (GATC), reafirmamos nosso compromisso com uma agenda territorial construída desde as bases, conduzida por nossas autoridades territoriais e voltada para o bem viver de nossos povos. Um dos nossos eixos de atuação é incidir na transformação do investimento e da cooperação nacional e internacional para uma abordagem de investimento territorial direto, baseada em direitos, autodeterminação e resultados para nossos territórios. Essa definição tem sido promovida por meio de nossa estratégia global de incidência e gestão: a Plataforma Shandia, que articula os fundos regionais Fundo Territorial Mesoamericano – FTM (Mesoamérica), Fundo Indígena “Jaguata” (Brasil), Fundo Territorial – Nusantara (Ásia) e Fundo Territorial dos Povos Indígenas e Comunidades Locais da África Central – Repaleac (África). Nossos fundos, liderados pelos próprios povos e comunidades, gerenciam recursos com pertinência cultural, abordagem territorial e governança própria.

Por isso, com clareza em nosso compromisso com nossos povos e comunidades, integramos e acolhemos de forma propositiva a iniciativa do TFFF impulsionada pelo Brasil, que designou o Banco Mundial para apoiar seu desenho. Temos particular interesse em incidir nos mecanismos que regerão a alocação dos 20% dos recursos destinados aos PI&CLs, para garantir que os Povos Indígenas e Comunidades Locais desempenhem um papel significativo na governança do fundo e que esses fluxos financeiros cheguem de forma direta, eficaz e culturalmente adequada a quem protege as florestas tropicais.

A GATC considera que o processo do TFFF representa uma oportunidade política fundamental para transformar a arquitetura financeira internacional e garantir um acesso mais justo e direto ao financiamento climático para os Povos Indígenas e Comunidades Locais. Ao mesmo tempo, é uma oportunidade para fortalecer nossos fundos territoriais e destacar o investimento territorial direto como uma solução eficaz e escalável, construída a partir de nossas próprias estruturas de governança e visões de desenvolvimento.

O processo de co-desenho do mecanismo para os PI&CLs será inclusivo e aberto a redes além da GATC. Buscamos que ele seja o mais participativo e inclusivo possível. Isso incluirá uma escuta durante o Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas (UNPFII) em abril, e um diálogo global durante o Congresso Global das Bacias Florestais em Brazzaville, República do Congo, no final de maio. Será estabelecido um Comitê Diretor Global com representantes das principais redes indígenas e comunitárias da Ásia, África e América Latina.

Ao completar 20 anos, a APIB afirma sua liderança global em questões climáticas na ATL 2025

O 20º aniversário da APIB na ATL 2025 definiu o tom para a liderança indígena em ações climáticas, com o lançamento de um NDC Indígena, a coordenação internacional para a COP30 e mobilizações poderosas. Foto principal: Walter Kuamaruara

Abril de 2025 — Em um momento histórico para a liderança indígena em questões climáticas, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) comemorou seu 20º aniversário no Acampamento Terra Livre (ATL) 2025 com o lançamento da primeira proposta para incluir as demandas dos Povos Indígenas nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Brasil. Além disso, a APIB anunciou a criação de uma Comissão Indígena Internacional para a COP30 e sediou uma reunião de alto nível com mais de 15 embaixadas para avançar a cooperação internacional no caminho para Belém.

Juntamente com líderes indígenas e comunitários locais do México, Panamá e Equador, representando a Aliança Global de Comunidades Territoriais, a APIB reafirmou sua liderança como principal convocadora da sociedade civil para a COP30. Eles elevaram sua campanha “Nós somos a resposta”, que visa unir movimentos de base com foco em soluções lideradas por Povos Indígenas, Comunidades Locais, Quilombolas e outros.

A ATL deste ano foi um ponto de inflexão para o movimento indígena, com o lançamento oficial da primeira Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) Indígena do Brasil, uma proposta que visa integrar as demandas indígenas no quadro mais amplo dos compromissos climáticos do Brasil no âmbito do Acordo de Paris. A NDC enfatiza a necessidade de equidade, autodeterminação e participação ativa dos Povos Indígenas e comunidades tradicionais na implementação das estratégias climáticas do Brasil.

“O lançamento da NDC Indígena no Brasil representa a força com que nossos povos estão se aproximando da COP30. Estamos reforçando a importância de nos colocarmos no centro do debate climático, pois somos essenciais para enfrentar a crise”, disse Kleber Karipuna, coordenador executivo da APIB. “É impossível, no século XXI, com todas as evidências reconhecendo nosso papel como protetores dos territórios, que não sejamos incluídos como uma estratégia vital que o Brasil pode oferecer na luta contra as mudanças climáticas.”

Duas poderosas marchas de protesto lideradas por Povos Indígenas ganharam destaque durante a ATL. A primeira, com o tema “Nossa demarcação é nosso clima”, denunciou a demora na titulação de terras e os ataques políticos aos direitos indígenas. A segunda, “Sem Demarcação, Não Há Democracia”, chamou a atenção para retrocessos legislativos, como a Tese do Prazo e o PL 2903. Apesar de enfrentarem repressão violenta da polícia durante ambas as mobilizações, os líderes indígenas receberam fortes mensagens de apoio de aliados e movimentos internacionais, incluindo a Aliança Global de Comunidades Territoriais (AGCT), reafirmando a solidariedade global com sua luta.

Durante a ATL, ocorreram dois protestos significativos, cada um abordando questões críticas para as comunidades indígenas. O primeiro, “Apib Somos Todos Nós: Nosso Futuro Não Está à Venda”, foi uma resposta direta às crescentes ameaças aos direitos dos Povos Indígenas no Brasil, particularmente uma nova proposta do Supremo Tribunal Federal que ameaça retirar dos Povos Indígenas o poder de veto sobre as atividades econômicas em suas terras ancestrais. Este projeto de lei, que visa abrir territórios indígenas à mineração, hidrelétricas e estradas, representa um movimento sem precedentes na história do Brasil.

O segundo protesto, a “Marcha ‘A Resposta Somos Nós’”, contou com a participação de diversos grupos da sociedade civil brasileira, incluindo quilombolas, pequenos agricultores, jovens e outros movimentos de base. A mensagem central da marcha enfatizou que as soluções para a crise climática estão nas mãos das pessoas que vivem no campo — aquelas cuja subsistência está diretamente ligada ao meio ambiente. Essa mensagem ressoou além das fronteiras do Brasil, com o objetivo de unir movimentos globais no caminho para a COP30. A marcha terminou com uma repressão policial não provocada contra os manifestantes, um ato que a APIB condenou, reafirmando que o protesto havia sido pacífico.

Em um importante momento diplomático, a APIB, em parceria com o AGCT e a COIAB, organizou uma reunião de alto nível com embaixadas intitulada “Nós Somos a Resposta: Visões Indígenas para a COP30”. Mais de 15 embaixadas participaram, incluindo Alemanha, Reino Unido, França, Canadá e União Europeia. Esta reunião foi um passo significativo para garantir que as vozes indígenas não sejam apenas ouvidas, mas também incluídas nas negociações oficiais sobre o clima. O objetivo é que a COP30 deixe um impacto duradouro, no qual a participação indígena esteja ainda mais consolidada nos resultados da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).

A APIB também anunciou a criação da Comissão Internacional Indígena para a COP30, um passo histórico para formalizar a participação indígena na governança climática global. A Comissão será liderada pela ministra Sonia Guajajara e incluirá representantes da APIB, COIAB, ANMIGA, G9 Amazônico e AGCT.

“Estamos aqui em solidariedade às mulheres Indígenas do Brasil, estamos aqui pelo direito ao território e à vida. Estamos firmes em nossa solidariedade aos povos do Brasil”, disse Sara Omi, líder Embará do Panamá e representante da Aliança Global de Comunidades Territoriais (AGCT).

A presença internacional na ATL 2025 foi sem precedentes, com líderes do México, Panamá, Equador, Austrália, Fiji e outros países em solidariedade ao movimento indígena brasileiro. A delegação da AGCT trouxe vozes de todo o mundo — enfatizando que os Povos Indígenas e as Comunidades Locais não estão apenas na linha de frente da crise climática, mas também na vanguarda das soluções.

Enquanto a APIB comemora duas décadas de mobilização por direitos e territórios, a ATL 2025 posicionou os Povos Indígenas no centro da liderança climática, fortalecendo sua voz coletiva no caminho para a COP30 em Belém.

Sistemas alimentares COP16

Plano Estratégico 2024 & 2025

De brasília, um chamado para os governos trabalharem pelos povos indígenas do mundo rumo à COP30

Os Povos Indígenas do Brasil reuniram-se com mais de uma dúzia de embaixadores de Brasília para apelar aos governos que apoiem a sua agenda para a COP30 com ações rápidas para parar o desmatamento e a violência nas terras indígenas.

Abril de, 2024 — O movimento indígena brasileiro busca múltiplos caminhos para garantir que a próxima COP30 possa ser marcada por ações nos territórios. Numa reunião com mais de uma dúzia de embaixadas, pediram aos governos que se comprometessem a pôr termo às actividades extractivas dos seus países em terras indígenas. Enquanto o país se prepara para sediar a próxima COP30, é preciso aliar o discurso à ação no terreno, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

Durante o encontro, líderes de todos os biomas do Brasil levantaram as ligações entre a invasão de terras e o interesse estrangeiro, destacando especialmente a violência que as comunidades vivenciam devido ao deslocamento e aos confrontos com invasores e corporações.

“Não receber exportações de soja que estejam ligadas ao sangue indígena. Se um produto vem das nossas terras, é resultado de um ataque direto a nós e está tingido de violência”, disse Norivaldo Mendes, do povo Guaraní Kaiowa e Coordenador Executivo de Aty Guasu e APIB. “As empresas não dizem de onde vem a soja porque não querem perder todos os recursos que nossa terra lhes proporciona”, concluiu.

A delegação reuniu-se com representantes da Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, França, Itália, Noruega, Nova Zelândia, Suécia, Suíça, Reino Unido, União Europeia e os Ministérios dos Negócios Estrangeiros e dos Povos Indígenas. Esta é a primeira vez que a APIB organiza uma reunião única com um corpo diplomático deste calibre.

Entre os pedidos dos líderes indígenas, eles pediram a esses governos que apoiassem a participação indígena efetiva na COP30 e incluíssem objetivos concretos para a demarcação de Terras Indígenas na próxima atualização das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) do Brasil; implementar financiamento direto às organizações indígenas, adaptando suas operações, instrumentos de monitoramento e avaliação; e priorizar uma nova visão sobre infraestrutura que respeite o Consentimento Livre, Prévio e Informado e que não afete as Terras Indígenas, exigindo explicitamente que nenhum mineral ou petróleo seja explorado em seus territórios.

Os embaixadores ouviram um apelo à responsabilização das empresas pelos danos causados ​​à natureza e aos habitantes das regiões onde operam; e comprometer-se a não financiar ou apoiar projetos caracterizados como lavagem verde.

“Queremos aumentar a rastreabilidade dos produtos vendidos à União Europeia e às grandes economias do Norte Global, porque assim poderão perceber porque denunciamos constantemente ataques violentos de usurpação de terras”, afirmou Dinamam Tuxa, Coordenador Executivo da APIB.

A liderança também pressionou por um debate sobre a expansão da mineração como resposta à crise climática e uma proposta de desenvolvimento “sustentável”. “Não faz sentido vir ao Brasil procurar o que já foi consumido em seus países”, disse a coordenadora executiva Kreta Kaingang, falando de combustíveis fósseis e projetos de mineração. “Não somos contra o desenvolvimento, mas não podemos aceitar um desenvolvimento que se baseie na morte do nosso povo”, acrescentou.

A liderança da Aliança Global de Comunidades Territoriais (GATC) juntou-se às autoridades indígenas brasileiras para a reunião, como parte de sua participação no Acampamento Terra Livre (ATL) para avançar uma agenda conjunta para a COP30 e conclamar outros atores a juntar seus esforços. A presença deles mostrou a articulação entre Povos Indígenas e Comunidades Locais ao redor do mundo.

“Em nome dos Povos Indígenas de nossa aliança, queremos que os governos se juntem a nós para fazer da COP30 um ponto de virada histórico na forma como o mundo enfrenta a crise climática. Se não nos unirmos, talvez tenhamos que nos sentar para escrever o livro de história sobre como a humanidade falhou em viver com a Mãe Terra”, disse Rukka Sombolinggi, em representação dos Povos Indígenas da Indonésia e do GATC.

Os representantes das embaixadas reconheceram o papel de guardião que os Povos Indígenas exercem em seus territórios e se comprometeram a continuar os diálogos com a APIB no caminho para a COP30. Além disso, falaram de seus projetos em andamento e da vontade de continuar investindo e se conectando com as comunidades. Muitos prometeram trabalhar tanto com as organizações indígenas quanto com o governo brasileiro para acelerar a demarcação e a proteção efetiva das terras indígenas, garantindo a autonomia dos povos e fortalecendo a governança territorial.